sábado, 27 de setembro de 2008

Viva o Comité Central cessante!


Os militantes do PCP podem:

-discutir e apreciar o projecto de resolução política que o Comité Central cessante decide apresentar ao Partido;
-propor alterações e emendas que o Comité Central cessante decide aprovar ou não;
-votar a proposta de resolução que o Comité Central cessante, emendando ou não, decide apresentar ao Congresso;
-votar a lista única de candidatos que o Comité Central cessante decide apresentar para o substituir.

Todos podem participar na discussão, na alteração e na aprovação daquilo que o Comité Central cessante decide aprovar para ser aprovado. Esta democracia, de facto, é diferente da democracia da balda vigente nos partidos burgueses. É a democracia planificada. A mais eficiente das formas da democracia, a que não permite o aparecimento de alternativas, evitando esse desnecessário desperdício. Concedendo ao Comité Central cessante o poder de decidir, evita a dificuldade e a chatice da escolha. Substituindo a livre decisão pela livre consagração, constitui a mais ampla democracia tutelada. Engana-se, portanto, quem julgar que a democracia implica escolher, com base na liberdade de propor e de optar. Para os comunistas, a liberdade de propor e de optar está reservada para o Comité Central cessante; aos restantes, somente está concedida a “liberdade” de aceitar.

Dizem-nos que esta não é a democracia que propõem para a organização do Estado. Porque é defeituosa? Então, porque a utilizam? Porque no partido — que se guia pelo marxismo-leninismo, a teoria científica do passado, do presente e do futuro por acontecer — não há opiniões contraditórias que necessitem de ser expressas? Porque nesta época da “revolução anti-monopolista e anti-imperialista” já não há interesses contraditórios entre os trabalhadores e os pequenos e médios “empresários”, que o partido, à molhada, pretende representar? Porque é a única forma de garantir a “unidade” do partido e, depois, do povo?

Não deixa de ser surpreendente, nos tempos que correm, que os comunistas ainda confundam a unidade com a negação do direito à expressão da diversidade e da eventual contradição que ela encerra; que persistam na cegueira do óbvio, que não lhes permite distinguir entre a democracia e a ausência dela; e que acabem todos felizes por participarem na aprovação do que o Comité Central cessante decidir aprovar que eles aprovem. Enganam-se os comunistas, enganamo-nos nós, que apontamos estes contra-sensos, ou pretenderão eles enganar-nos?

Não podemos ficar indiferentes, ainda que eles o queiram. Mas, perante tamanha mostra de felicidade, é caso para dizermos: Viva o Comité Central cessante!