sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Greve Geral: como a transformação dos meios em fins constitui o objectivo da luta


Hoje, não se pergunta se a greve geral foi vitoriosa, se os seus difusos objectivos foram alcançados; não, afirma-se apenas que a sua realização foi um êxito. Os meios da luta, a greve geral, são assim transformados em fins da luta, e conseguir realizá-la parece ter constituído o verdadeiro objectivo a alcançar. É o descrédito total da greve geral como arma de luta dos trabalhadores por objectivos concretos.

Na situação actual, de grande fragilidade do movimento operário e sindical, uma greve geral era forma de luta inadequada. E uma greve de um dia, além do mais, era insusceptível de travar a ofensiva do governo contra os interesses dos trabalhadores. Como se verifica, apesar da greve geral e do êxito que no dizer dos organizadores teria constituído, a ofensiva governamental continua.

Para protesto genérico contra as políticas governamentais, portanto, servia perfeitamente mais uma passeata, de preferência ao sábado ou ao domingo. Mostrava a indignação, o repúdio e o descontentamento dos trabalhadores, saía-lhes mais barato, não espalhava o desânimo e permitia aos organizadores atingirem os seus objectivos: cumprir o lema "assim se vê a força do PC".

Lutar só por lutar, em vez de lutar para vencer, ilustra a indigência do sindicalismo mendicante vigente, espelho da miséria franciscana dos partidos de que os sindicatos são correias de transmissão ou simples marionetas, e contribui para reforçar o poder do patronato e dos seus governos, que perdem todo o receio das acções organizadas pelo movimento sindical.

Quando se ouve, vinda de um reputado jovem deputado putativo defensor da luta de classes, a afirmação de que nesta greve participaram não só os trabalhadores mas também pequenos e médios empresários, está tudo dito sobre a concepção reinante acerca da luta de classes em que participariam, lado a lado, trabalhadores e pequenos e médios capitalistas, irmanados contra o capital monopolista e financeiro.

A realidade — neste paraíso do capitalismo de vão de escada, de tanta gente aboletada na mesa do orçamento, dependente da teta do Estado pela negociata, pelo “arranjinho”, pelo favor e pelo subsídio, e de tanta outra que se vai desenrascando pelo biscate, pelo “expediente”, pela corrupção e pela burla — é desoladora. Será necessário apresentá-la tão mistificada?