sábado, 9 de agosto de 2014

A corja: palermas e perigosos

Transcrevo do Abrupto do Pacheco:

"(...) sobre o assunto em epígrafe bastará afirmar que nunca vi diplomas legais publicados em Diário da República como os Decretos-Leis nºs 114-A e 114-B/2014, pois «ambos os dois» foram aprovados em reuniões do Conselho de Ministros que não existiram, nem podiam existir, em face do disposto expressa e taxativamente no artigo 184.º da Constituição.

Quanto ao Decreto-Lei n.º 114-A/2014, o Conselho de Ministros não pode ser composto apenas pelo Primeiro-Ministro, pelo Secretário de Estado Adjunto e do Orçamento (presume-se, com muito boa vontade, que em substituição da Ministro de Estado e das Finanças) e pelo Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

Quanto ao Decreto-Lei n.º 114-B/2014, o Conselho de Ministros não pode ser composto apenas pelo Vice-Primeiro-Ministro e pela Ministro de Estado e das Finanças.

Nem falarei da mais que óbvia falta de quórum, nem do facto incontroverso das reuniões do Conselho de Ministros terem de ser presenciais (a alusão à teleconferência feita pelo Vice-Primeiro-Ministro é ridícula e espelha bem a desorientação do Governo nesta matéria – como, aliás, noutras), nem de que os comunicados do Conselho de Ministros têm de reflectir o que neles foi aprovado…

Resta relembrar dois ditados da sabedoria tradicional portuguesa: «Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele»; «Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo».

Por último, expresso a minha perplexidade:

1.º Como pode o «BES-Bom/Novo Banco» funcionar desde 4 de Agosto de 2014 com uma rede de mais de 700 balcões, mais de 20.000 trabalhadores, mas sem personalidade jurídica, sem firma comercial e sem um tostão de capital social, uma vez que se desconhece quais os seus Estatutos, se sabe que a denominação se encontra registada e é propriedade de outra entidade bancária, e que nem o (Des)Governo, nem o Banco de Portugal, nem a Associação Portuguesa de Bancos se entenderam ainda quanto à modalidade e ao montante da dita “recapitalização”;

2.º Como pode o «BES-Mau» funcionar desde 4 de Agosto de 2014 sem licença bancária, mas com contas e depósitos bancários (congelados) pertencentes aos administradores do BES/GES, seus cônjuges, pais, filhos, netos e outros que tenham o azar de ostentar o apelido “Espírito Santo”…

(F.F.)"


Os melros da corja (bando de Pulhas, de Putos e de Panascas) merecem mais uns epítetos: além de palermas, que eventualmente nem se apercebem das trapalhadas que provocam, são perigosos, porque não olham a meios para servirem os seus patrões. Neste caso, para os salvarem, porque muitos iriam ao fundo com a vigarice em grande escala dos Espírito Santo. Nem a lei já constitui para eles empecilho, porque deixaram de respeitá-la, e com a maior desfaçatez transferem para os bolsos dos capitalistas, sem qualquer suporte legal nem garantias de reembolso, milhares de milhões de euros, oriundos do empréstimo externo concedido para acudir na situação de bancarrota iminente de há três anos e que constitui parte substancial da dívida pública.

O gágá de Boliqueime que ocupa a cadeira em Belém, suposto Presidente da República que jurou defender a Constituição e zelar pelo regular funcionamento das instituições, está feito com a corja, cujas tropelias consente e, por vezes, apadrinha ou incentiva. Os partidos ditos da esquerda parece não pretenderem levantar grandes ondas, não vá esta merda esboroar-se como um castelo de areia e mais uns milhares serem jogados no desemprego. Numa situação tão escabrosa, a Procuradoria da República não vislumbrou sequer indícios de ilegalidades que em inquérito célere lhe permitissem constituir quaisquer arguidos. E o coro de jornaleiros de serviço, propagandeando, calando ou elogiando, não fica atrás das restantes marionetas.

Estamos num ponto em que para a cambada que integra a corja parece valer tudo, menos tirar olhos (por enquanto). Como pobres de espírito, nada merece interromper-lhes os banhos nem chega a perturbar-lhes o sono; como meros testas-de-ferro, ainda por cima medíocres e incompetentes, os banqueiros (nomeadamente, os de fora) decidem por eles. O povoléu que se amanhe com os dois ou mais BPN que se perspectivam. Se não nos pusermos a pau, estaremos feitos ao bife: esta maltosa deixar-nos-á de tanga… por uns bons anos.