quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A luta do corjedo pelo poleiro: afinal, tanto barulho para quê?

O corjedo anda num desatino: a corja que lá está tudo faz para não deixar o poleiro; a corja que já lá esteve tudo pretende fazer para lá voltar. Os argumentos expendidos pelos directórios partidários da corja que lá está e pelos seus comentadores avençados estão ao nível do populismo rasteiro, típico da direita mais trauliteira, e da habitual indigência mental, o que não é de estranhar num país de diversos países de mentirosos, de aldrabões, de vigaristas, de corruptos, de mamões à conta, de videirinhos, de racistas encobertos e de burros que ainda acreditam que os comunistas comem criancinhas e matam os velhos por injecção atrás da orelha, como lhes diz a padralhada. É a direita autoritária, assanhada, no seu melhor, a fazer estalar o pouco verniz democrático com que se cobre. Tudo porque está munta dinheiro em jogo.

Contados os votos decisivos, faltando apenas os da diáspora, perante a insuficiência dos deputados eleitos pela corja que lá está para formarem a desejada maioria, apesar dos ganhos com o expediente de concorrer coligada, o gagá de Boliqueime exigiu um entendimento partidário para a formação de um governo estável. Na sua perspectiva, tal só seria possível pela aliança do corjedo, o centrão que tem governado esta merda há quarenta anos. Em vez de convocar os partidos e lhes transmitir o sermão, como era sua obrigação constitucional, encarregou o cantador de ópera falhado, chefe do partido com a maior representação parlamentar, de proceder ao arranjinho. Original, mas nada de extraordinário ou de inconstitucional.

Apesar do encargo, antes mesmo de iniciar as diligências encomendadas o cantador de ópera falhado apressou-se a firmar um acordo de coligação, minoritária, de governo com o parceiro PP (o tradicional estabilizador de governos permanentemente desestabilizado). Com isso, o cantador de ópera falhado inviabilizou a formação de um governo do corjedo, frustrando as pretensões do gagá de Boliqueime, e dificultou um eventual entendimento com vista ao apoio da corja que já lá esteve, como provado pelo diálogo de surdos que se seguiu, apostando forte na continuação de um governo da corja que lá está, agora minoritário, mostrando que até o centrão lhe causa arrepios (brr! vá de retro, Satanás!).

Derrotada na representação (ainda que não na votação) pela fraca alternativa apresentada e pela modéstia da prestação e do empenho, a corja que já lá esteve, por despeito e para salvação do solitário chefe Tó Gosta do poleiro, agarrou-se à bóia que lhe lançou o PCP e pôs-se a entabular conversações com os partidos à sua esquerda, com vista a obter apoio para a formação e para a viabilização de um governo seu, de modo que a representação da maioria que não votou na corja que lá está não se transformasse numa mera coligação negativa de oposição e se pudesse constituir como esteio sólido de uma sua alternativa de governo estável suportado por uma confortável maioria. Original, mas também nada de extraordinário ou de inconstitucional.

Fora o chefe Tó Gosta do poleiro e o seu séquito mais chegado parece que mais ninguém das hostes deseja a constituição de um governo minoritário apoiado numa “maioria de esquerda”, e alguns têm mesmo horror a essa coisa que ainda é chamada de “esquerda” (credo, cruzes, canhoto!). As pretensões da pequena parte que se afirma de “esquerda” da corja que já lá esteve, portanto, não passarão de ilusões ou até de folclore para entreter o pagode. Para o chefe Tó Gosta do poleiro serão, talvez, a tentativa de salvar a pele e de não cair no desemprego. Com tantos encargos, coitado, compreende-se, mas tem de reconhecer-se que não é lá muito edificante, tal como já acontecera com a forma como ascendeu à chefia partidária.

Mesmo tendo êxito, o que é duvidoso tendo em conta a súbita conversão dos comunistas, esses exímios artistas da dissimulação, à bondade da corja que já lá esteve para substituir a corja que lá está, os esforços do chefe Tó Gosta do poleiro poderão ser em vão, porque a sua indigitação à primeira seria um sacrilégio e porque nas suas hostes não faltará quem se disponibilize, por presença ou por ausência, para inviabilizar a rejeição parlamentar do governo minoritário que a corja que lá está vier a formar. E não serão apenas uns poucos queijos limianos; pelo seguro, será a queijaria necessária. Nada de original e também nada de extraordinário ou de inconstitucional. Afinal, tanto barulho para quê?